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quarta-feira, 20 de abril de 2011

A REDE ESTA MELHORANDO OS JOVENS

Edward Gajdel

Quem nasceu junto com os primeiros computadores pessoais, criados em 1974, está tão mergulhado no mundo digital que pode até imaginar que não havia vida antes do surgimento da internet. Essa é a turma que o consultor e cientista social canadense Don Tapscott, de 46 anos, batizou de Geração Net. Foi pela internet que Tapscott fez a pesquisa que resultou no livro Geração Digital (tradução de Ruth Gabriela Bahr; Makron Books; 321 páginas; 52 reais). O trabalho traça o perfil de uma geração excepcionalmente curiosa e dona de uma visão global que seus pais nunca conseguiram alcançar. "Esses meninos e meninas vão mudar o mundo", afirma Tapscott. Pai de um casal de adolescentes, o consultor preside atualmente a Alliance for Converging Technologies, em Toronto, de onde deu esta entrevista a VEJA.
Veja - Qual é a melhor idade para apresentar o computador a uma criança?
Tapscott - Depende da criança. Não vejo muito sentido em jogos de computador desenvolvidos para bebês com menos de 3 anos. Brincar com cubos é tão produtivo quanto ficar na frente de uma tela, mas há CD-ROMs que podem ser divertidos e ao mesmo tempo estimulantes para crianças de 4 anos. Eles ajudam a aprender letras, cores, números. Isso é ótimo. Mas os pais nunca devem substituir o tempo que passam com seus filhos por um computador. A chave de uma boa educação ainda é a leitura e as brincadeiras com as crianças.
Veja - E os pais estão preparados para enfrentar os desafios da Geração Net?
Tapscott - Muitos sim, outros ainda não. Ao escrever o livro, conversei com vários pais que participam ativamente da vida de seus "filhos digitais" - eles fazem de tudo para oferecer o que há de mais moderno no mundo tecnológico e apóiam suas atividades. Por outro lado, alguns pais proíbem o acesso à internet. Eles alegam que essa é uma porta que pode levar as crianças à pornografia e à pedofilia. Isso é um absurdo, uma grande bobagem.
Eles temem a internet por não compreendê-la.

Veja - E as escolas? Conseguem compreender a rede?
Tapscott - As escolas tradicionais estão vivendo um impasse. A maior parte utiliza os mesmos métodos há séculos e a Geração Net não está nem um pouco interessada em ser testada a cada mês para ver se está memorizando as matérias dentro das regras. A garotada quer adquirir conhecimento e habilidade por meio das próprias descobertas. Os professores devem ser seus co-navegadores.
Veja - Como a internet está mudando a forma de aprender e pensar dessa geração?
Tapscott - Quando estão on-line, as crianças lêem, analisam, contextualizam, criticam e compõem seus pensamentos. Estamos assistindo ao nascimento de uma geração de jovens inovadores, antenados, entendedores do poder da mídia, que aprendem por meio da interação.
A informação não é apenas consumida. Ela também é produzida pelos jovens.
Veja - A Geração Net está condenada ao vício do computador e a uma vida sedentária?
Tapscott - O tempo que essas crianças passam na frente do computador é o tempo que elas deixam de assistir à televisão. A televisão é passiva: você se reclina na poltrona e simplesmente assiste a ela. A internet é ativa.
Veja- Como o senhor vê as crianças milionárias produzindo conhecimento e pilotando comércio eletrônico aos 16 anos?
Tapscott - Acho ótimo. Os milionários são raros. Essas crianças têm talento natural para os negócios, e a tecnologia digital está permitindo que explorem suas habilidades.
Veja - A Geração Net é mais liberal que a dos anos 60, cuja bandeira era um mundo de "paz e amor"?
Tapscott - A ideologia dessa turma ainda não é clara, mas discordo frontalmente da idéia defendida por muitos de que essas crianças são gananciosas, centradas no próprio umbigo e preocupadas apenas com a carreira e o sucesso financeiro. Há uma evidência contrária que revela uma dose de idealismo e consciência social bem maior que a de seus pais. Essa geração tem um forte senso de bem-estar comum, de responsabilidade cívica e coletiva. Além de tudo, ela detém mais conhecimento do que qualquer outra geração nessa idade.
Veja - Como assim?
Tapscott - Esses jovens têm autoconfiança e auto-estima. Sabem que seu futuro não está nas mãos de governos ou empresas. Valorizam os direitos individuais, como a privacidade e a liberdade de expressão. E mais: querem ser tratados com justiça. Há um traço cultural marcante, que faz com que eles queiram dividir uma parte da riqueza que ganham.
Veja - O mundo será mais democrático e divertido quando essa garotada assumir o poder?
Tapscott - Não sei se mais divertido, mas com certeza mais democrático. A Alliance for Converging Technologies, empresa da qual sou presidente, acaba de iniciar um grande estudo internacional para descobrir como a tecnologia digital mudará as relações entre os cidadãos e o governo.
O potencial para um desenvolvimento positivo é enorme.

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